A Coordenadora de Projetos do Instituto Melhores Dias, Marianita Masiero, foi pega de surpresa no Canadá, na cidade de Victória, capital da província de British Columbia, onde chegou em 25 de fevereiro para acompanhar o nascimento de seu primeiro neto.
A cidade, que é eminentemente turística, fica na Ilha de Vancouver, na costa oeste do país. Muitos transatlânticos aportam no local durante o verão. No centro da cidade, ela conta, há muitos restaurantes, cafés e lojas que têm os turistas como principal fonte de renda.
De lá, nossa coordenadora traça um paralelo entre a forma como os canadenses enfrentam a pandemia e como ela acompanha as notícias sobre como o Brasil enfrenta esse momento difícil para humanidade.
IMD – Como a pandemia pegou você no país onde você está?
MARIANITA: Quando saí do Brasil, a pandemia estava no início e não imaginava a que ponto chegaria. Vim para ficar 30 dias, meu retorno estava previsto para final de março. Por volta do dia 15/3 recebi a notícia que minha volta havia sido cancelada, pois a empresa aérea deixou de realizar voos para a América do Sul. Como estou hospedada na casa do meu filho, não tive problemas. Só conseguirei voltar no início de junho.
Na província de British Columbia, que tem população de 5 milhões de pessoas, houve 2212 casos e 111 mortes até o dia 30 de abril. O governo testa todas as pessoas que apresentam sintomas.
IMD – Qual foi a estratégia de isolamento social adotada aí?
MARIANITA: Ficamos em casa por conta de ter um recém-nascido. Estamos em isolamento social desde 10 de março. Meu filho trabalha em um escritório presencialmente e toma todas as medidas de higiene recomendadas pela OMS. No trabalho, ele tem álcool gel à disposição e mantém distância de mais de 1 metro entre os demais trabalhadores. Saio para ir ao supermercado e algumas voltas ao ar livre. Aqui não há obrigação do uso de máscaras.
IMD – Há uma previsão de término do isolamento?
MARIANITA: Sem uma data certa, mas já se fala em flexibilização. E como está em fase de controle da contaminação, já há liberação dos espaços públicos externos como praças e uma abertura gradativa do comércio.
IMD – Foi boa atuação estatal na gestão da pandemia?
MARIANITA: Excelente. Logo no início do isolamento o primeiro ministro, Justin Trudeau, fez um pronunciamento informando as medidas de proteção ao cidadão. Anunciou a liberação de recursos para o cidadão se manter. Aqui, as leis trabalhistas são bem diferentes do Brasil. Não existe pagamento feito pelo empregador se o funcionário não trabalhar. Quando o funcionário adoece, o pagamento passa a ser feito pelo EI (Employment Insurance), por exemplo. No caso da pandemia, os funcionários passaram a receber por este seguro estatal. Tudo de forma rápida, sem burocracia, por meio da internet. O que mais me chamou a atenção foi a fala de Trudeau em que pedia calma e tranquilidade, que o Estado ia cuidar das pessoas. E de fato, isso acontece. Toda a saúde é pública, na cidade não existem hospitais particulares.
IMD – Como enxerga, à distância, a gestão da pandemia no Brasil?
MARIANITA: Parece ser um caos. Desorganização, insegurança tanto nas atitudes em relação à saúde quanto às questões econômicas. Políticos parecem tirar proveito da situação em detrimento da saúde das pessoas.
IMD – Há notícias sobre o nosso país?
MARIANITA: Poucas notícias sobre a pandemia e muitas notícias sobre a posição do presidente da República frente à pandemia. Muitas críticas sobre ser contra o isolamento social, sobre troca do ministro da saúde e demais desmandos. Sobressaímos de maneira negativa no noticiário.
IMD – Quais ações você viu que poderiam ser adotadas também no Brasil?
MARIANITA: O pagamento da ajuda financeira de maneira rápida, sem burocracia e sem ser presencial. Acesso fácil pela internet. Prazos cumpridos. O que o governo anuncia, ele faz. Tranquilidade que o governo passa para a população. Isolamento social obrigatório.
Agradecimento da população aos funcionários da saúde. Os moradores pregam nas janelas de suas casas bandeiras do Canadá com corações. As crianças fazem desenhos para os profissionais da saúde e colam nas janelas.
IMD – A educação da população contribui para o controle da pandemia?
MARIANITA: Muito! Aqui não há protestos para abrir o comércio. Eles entendem que a saúde vem em primeiro lugar. No supermercado, as pessoas obedecem a distância e as regras. Existem mão e contramão nos corredores e as pessoas respeitam. Os parques estão fechados com faixas plásticas e ninguém tenta passar. Não há a necessidade de manifestações. Nem discussão sobre as medidas de isolamento.
IMD – O que mais chamou sua atenção nessa experiência vivida fora do seu país?
MARIANITA: A confiança que o governo passou para a população. A rapidez nas soluções e a disposição da população em relação aos desafios que o governo impôs. Outra coisa foi o fato de cederem barracas para os moradores de rua com a distância necessária entre eles dentro de um parque. Nesse acampamento há chuveiros e são cuidados por funcionários e voluntários. É um trabalho grande para garantir as condições de higiene e a distância social desse segmento menos favorecido.