Artigo de Joyce Capelli
O segundo dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU é “Erradicar a fome”. O Instituto Melhores Dias se esforça, com seus programas, para desenvolver e tornar realidade para comunidades brasileiras os 17 ODS.
Mas a realidade nacional sempre se mostra um enorme desafio para a sustentabilidade social e ambiental ampla. Pesquisa divulgada nesta semana deixa isso muito claro, pois revela um problema estrutural da sociedade brasileira, ressaltando a distância que nos encontramos do ODS 2 e do ODS 10 também, que preconiza “reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles”. Afinal trata de lares onde se passa fome e aponta que eles são majoritariamente liderados por pessoas pretas ou pardas.
Divulgado no dia 26 de junho, o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN), pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), aponta que mais de 60% dos lares que tem como arrimo pessoas autodeclaradas pardas e pretas sofre com algum tipo de insegurança alimentar.
A Insegurança Alimentar (sigla, IA) está dividida em três níveis de intensidade:
Leve: famílias que têm preocupação ou incerteza em relação ao acesso aos alimentos em futuro próximo, qualidade inadequada dos alimentos para não reduzir quantidade.
Moderada: lares com redução quantitativa de alimentos ou ruptura nos padrões de alimentação por falta de alimentos.
Grave: Quando a fome é realidade, não se consegue comer por falta de dinheiro, é feita apenas uma refeição ao dia ou fica-se o dia todo sem comer.
A Insuficiência Alimentar Grave, segundo a pesquisa, acontece mais em lares chefiados por pessoas pretas (20,6%), seguidas de pardos (17%) e brancos (10,6%).
Somando-se as Insuficiências Alimentares Grave e Moderada, a predominância é de 34,4% em lares chefiados por pessoa parda e 39,1% com uma pessoa preta na referência financeira.
Isso revela a presença da fome em nossa sociedade e a distância econômica que pretos e pardos têm de cidadãos brancos. Pesquisa do IBGE mostrava que, em 2021, considerando-se a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, a proporção de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos e quase o dobro entre os pretos (34,5%) e entre os pardos (38,4%). Os dados foram revelados pelo estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”.
Embora muitos insistam em ignorar, esse problema existe e é cruel. Não pode haver fome e desigualdade tão acentuada em uma sociedade desenvolvida. Temos que nos conscientizar, acreditar na existência deste problema e lutar com todas as forças contra ele.
O IMD estimula a criação de hortas escolares e comunitárias como forma de combate à fome e de acesso a alimentos frescos, nutritivos e de qualidade. Conheça e participe de nossos programas saiba mais sobre como combater desigualdades e como estimular a implementação dos ODS da ONU.
*Joyce Capelli é presidente e diretora executiva do Instituto Melhores Dias