Estamos chegando a um ano de pandemia e isolamento social. Com isso, crianças e adolescentes enfrentam os efeitos psicológicos e emocionais da ausência de contato social com os colegas de escola, sentem falta das visitas aos parentes e amigos da mesma idade. Muitos, nos últimos meses, passam o dia inteiro em casa enquanto os pais trabalham em ‘home office’.
Essa realidade está explicitada em uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) com cerca de 7.000 pais de crianças e adolescentes com idades de 5 a 17 anos.
O estudo revela que, de acordo com os pais entrevistados, 27% dos filhos e filhas apresentam sintomas de ansiedade ou depressão durante a pandemia, indicando necessidade de avaliação profissional. O número é alto e o problema sério.
Muitos pais e mães não sabem como agir: Defendem o retorno às aulas presenciais? Permitem contatos sociais com outras crianças? Ou devem manter o isolamento para preservação da saúde contra o coronavírus? Sem diretrizes, estratégias e apoio de órgãos do Estado para lidar com mais essa faceta da pandemia, cada família procura um jeito próprio para lidar (ou não) com essas questões.
Ausência de contato social, que é fundamental para o desenvolvimento das habilidades sociais de crianças e adolescentes, vai impactar no comportamento dessa geração após a pandemia. Crianças menores aprendem a compartilhar com as brincadeiras e com o convívio com colegas. Adolescentes aprendem sobre relacionamento e comportamento social por meio de suas amizades e namoros. Isso deixou de acontecer nos últimos meses. Garotos e garotas precisarão se adaptar quando forem inseridos novamente em seus grupos sociais.
Essa questão tem permeado as discussões da equipe do Instituto Melhores Dias, que presido. Desenvolvemos programas voltados para o desenvolvimento saudável de nossas crianças e adolescentes em várias regiões do Brasil. E o alerta é para total falta de discussão ampla e nacional sobre essa vil realidade que afetará nossas crianças no futuro.
A escola sempre foi o ambiente ideal de propagação de nossas atividades educativas e lúdicas para conscientização das crianças e da comunidade. Precisamos alterar nosso ‘modus operandi’ para manter nossas ações: migramos para o contato direto com as famílias e com os educadores em suas casas, por meio de contato digital.
Com isso, observamos as dificuldades que o País enfrenta nessa realidade de novo convívio familiar pouco explorada em meio a tantas preocupações com preservação da vida, com distribuição e aplicação de vacinas e com falta de perspectivas para controle da Covid.
Mas o que temos observado e que aparece em forma de números na pesquisa da USP, assusta, pede reflexão e ação. Veja o que mais o estudo revela:
– 13,4% das crianças e adolescentes se sentem solitários;
– 37,4% não têm mais rotina no dia a dia;
– 33% dormem menos de oito horas por dia;
– 23,2% dormem após uma da manhã em alguns dias da semana;
– 80% passam mais tempo na internet.
Talvez o único dado que possa ser considerado muito positivo é que 24% dos filhos dos pais e mães entrevistados sentiram alguma mudança positiva na família neste período, pois têm estado mais próximos dos familiares.
Enfim, será necessário que o Estado e Organizações da Sociedade Civil encarem, discutam e encontrem soluções para problemas que vêm por aí. A falta de um programa estruturado de vacinação demonstrou como pode ser lesivo para a sociedade um problema de saúde pública não endereçado. É fundamental começarmos a nos preparar agora, com diretrizes objetivas, estratégias definidas e capacitação dos agentes de saúde para evitar ainda mais crises de saúde num futuro bem próximo.
Artigo de Joyce Capelli, presidente do Instituto Melhores Dias
Fontes de informação:
https://www.otempo.com.br/