Joyce Capelli (à esquerda) representa o Brasil em evento na Alemanha.
Artigo por Joyce Capelli, Presidente e Diretora Executiva da Inmed Brasil
Um estudo global do renomado instituto The Economist (Intelligence Unit) foi apresentado em Darmstadt, Alemanha, há algumas semanas, durante o evento intitulado 100 anos saudáveis, as crianças estão preparadas?
A pesquisa mostra, entre muitas conclusões importantes sobre o futuro de nossas crianças, que os bebês que nascem hoje têm expectativa de vida de 107 anos. Essa constatação exige debate sobre aumento da longevidade e soluções para que as pessoas desfrutem do futuro com saúde.
O evento foi organizado pela empresa farmacêutica alemã Merck, uma das principais empresas globais de ciência e tecnologia. Para discutir as ações necessárias para um futuro saudável, a Merck reuniu especialistas e profissionais com sólida formação e experiência de campo de diversas organizações de renome como ONU, UNICEF, UNAIDS, Federação Mundial da Obesidade e McKinsey.
Graças à minha experiência à frente de organizações da sociedade civil que tratam de desenvolvimento saudável para as nossas crianças, fui convidada para representar o Brasil num dos painéis de discussão sobre os rumos para que as crianças se desenvolvam plenamente, aptas a viver mais de um século com saúde.
As principais conclusões do estudo do The Economist sobre o papel das escolas na vida saudável das crianças são:
– As crianças de hoje serão menos saudáveis do que os adultos de hoje com mais de 65 anos quando atingirem essa idade.
– Problemas relacionados ao estilo de vida são susceptíveis de contribuir para doenças crônicas na vida adulta e já estão causando problemas de saúde entre as crianças.
– Nos cinco países estudados (África do Sul, Índia, Arábia Saudita, Alemanha e Brasil), as escolas se dedicam aos principais problemas detectados, como falta de exercício físico, por exemplo, mas ignoram os problemas de saúde mental de muitos jovens;
– Há pouca evidência de que os atuais programas educacionais das escolas estejam conseguindo deter os crescentes níveis de obesidade e distúrbios mentais.
Tenho mais de 25 anos de trabalho com políticas sociais e à frente de organizações da sociedade civil organizada, por isso explanei sobre as mudanças que vêm ocorrendo no Brasil na faixa etária escolar, com um contingente cada vez maior e mais precoce de crianças com sobrepeso e obesidade e, ao mesmo tempo, anêmicas.
Nas escolas e na vida dos brasileiros, a falta de atividade física, é mais um componente preocupante quando se pensa em 100 anos de vida.
Essa realidade, que está em total conformidade com a pesquisa da The Economist, leva-nos a refletir sobre quais seriam os caminhos a ser percorridos com urgência pela sociedade e nas políticas públicas para reverter esse quadro.
Penso que a solução passa por melhor educação, mais conscientização e acesso. Ainda que o Brasil seja um país de desigualdades extremas, é possível, com vontade política e apoio das comunidades, transformar a presente situação e brecar o escalonamento do problema.
Aumentar a ingestão de alimentos de qualidade, incluindo verduras e legumes no dia a dia e finais de semana, aumentar de três para cinco vezes as atividades físicas semanais, são ações simples que podem reverter o quadro da obesidade com anemia.
Saladas coloridas, legumes cortadinhos, não exigem tempo e as crianças passam a gostar. Atividades físicas não precisam de equipamentos caros ou elaborados, um jogo de peteca, pega-pega, roda, amarelinha – brincadeiras que se faziam e que se perderam na correria da vida atual.
Para os pais, brincar com os filhos é muito mais gostoso e saudável do que ficar na frente da televisão ou computador. Cabe destacar que os problemas da obesidade e os males que ela pode acarretar, também atingem os pais.
Se quisermos que nossas crianças cheguem aos 100 anos de idade com saúde, precisamos investir, agora, no cuidado com alimentação e em atividade física para eles. Quanto mais cedo os bons hábitos para uma vida saudável são estimulados, mais sólidos eles se tornam.